SEJA BEM VINDO

Apoiadores

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Falta avanço em "Saneamento Básico" em todo o Brasil!

A infraestrutura sanitária deficiente desempenha uma interface com a situação de saúde e com as condições de vida das populações dos países em desenvolvimento, onde as doenças infecciosas continuam sendo uma importante causa de morbidade e mortalidade. A prevalência destas doenças constitui um forte indicativo de fragilidade dos sistemas públicos de saneamento (DANIEL et al., 2001). No entanto, na mensuração das condições de vida e saúde persiste um desafio. A saúde deve ser pensada como uma resultante das relações entre as variáveis ambientais, sociais e econômicas que pressionam as condições de vida. Logo, em toda análise da situação da saúde, os indicadores básicos de desenvolvimento humano assumem uma importância fundamental, pois documentam as condições de vida da população e dimensionam o espaço social em que ocorrem as mudanças em seu estado (OPAS, 2007).

No ano de 2007, foi promulgada a Lei Nacional de Saneamento Básico, no 11.445 (BRASIL, 2007), que estabelece que os serviços públicos de saneamento básico devem ser prestados com base em alguns princípios fundamentais, destacando-se a universalização do acesso aos serviços. A lei no 11.445 aborda as especificidades de cada um dos serviços de saneamento, tal como definidos em lei: abastecimento de água; esgotamento sanitário; limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos; drenagem e manejo das águas pluviais urbanas. Entretanto, o faz sob a perspectiva da integralidade aplicada ao saneamento básico e à integração desses serviços com outras políticas públicas que se relacionam mais diretamente com o seu campo de intervenção (BRASIL, 2009). Em 2008, apesar de ser a sétima economia do mundo, o Brasil apresentava índices de cobertura de saneamento básico de países subdesenvolvidos. A Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2008 (IBGE, 2010) mostrou, por exemplo, que somente 46% dos domicílios no país estavam conectados a redes de esgotamento sanitário. Tais redes estavam presentes, principalmente, nos grandes e médios centros urbanos e nas sedes dos municípios com população acima de 50 mil habitantes. No entanto, as estatísticas oficiais consideram que se um município oferece algum serviço público de saneamento básico, isso já o inclui entre os municípios atendidos, independentemente da qualidade do serviço prestado e do percentual de cobertura populacional. Além disso, em 2008, aproximadamente 20% da população brasileira não dispunha de rede geral de abastecimento de água; 50% dos municípios brasileiros depositavam o lixo a céu aberto, além de carências na área de drenagem urbana que geram inundações em cidades por todo o país. Em 2009, o gasto público com saúde — União, estados e municí- pios — correspondeu a 3,86% do Produto Interno Bruto do país, um valor aproximado de R$ 125,1 bilhões de reais. Inclusive, no Brasil, a parcela do orçamento federal destinada à saúde, excluídos gastos de estados e municípios, foi de 7,6% do total de gastos da União (DATASUS, 2011), sendo inferior à média dos países africanos (10,6%) e à média mundial (11,7%) entre 2000 e 2009 (OMS, 2010). Costa et al. (2010) afirmaram que o número médio de óbitos por doenças relacionadas a um saneamento inadequado no Brasil foi de 14.995 por ano no período 1996 a 1999, ou seja, 1,90% do total de óbitos no País no período. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2007), cerca de 233 mil pessoas morriam todo ano no Brasil por exposição a fatores de risco ambiental, como poluição do ar, água não tratada e falta de infraestrutura urbana, sendo que 19% de todas as mortes no país poderiam ser evitadas se fossem adotadas políticas públicas eficientes. A pesquisa levou em consideração as condições enfrentadas pelos brasileiros em seu dia a dia, afirmando que a poluição do ar causava óbito de 12,9 mil pessoas por ano e, ainda, com 22% das pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, a falta de água tratada e de esgotamento sanitário eram responsáveis pela morte de 15 mil brasileiros por ano. Neste contexto, o objetivo do presente artigo é desenvolver um estudo sobre o impacto sobre a saúde pública das deficiências dos serviços de saneamento básico no país no período de 2001 a 2009. Metodologia Área geográfica e população de estudo A área geográfica de estudo foi todo o território brasileiro. A população estudada compreende a população brasileira que chegou a 190,7 milhões de pessoas em 2010, cuja taxa de crescimento anual atingiu 1,12% ao ano na última década (IBGE, 2011). Universo de estudo O estudo epidemiológico das doenças relacionadas ao saneamento básico inadequado teve dois universos distintos. O primeiro, da mortalidade, dimensionado por meio de declarações de óbito, e o segundo, da morbidade, relacionada a casos de doenças de notificações compulsórias e de autorizações para internações hospitalares devido a doenças relacionadas ao saneamento básico inadequado.
 

Mesmo os serviços tradicionais que não contemplam democraticamente a todos, ainda sim, os serviços existentes são ineficientes, no que diz respeito á sadia qualidade de vida, a maioria é insustentável, pois, são ultrapassados e não atendem as necessidades ambientais, sociais e de saúde pública.  Ao contemplar novas alternativas sustentáveis, com custos baixíssimos,  percebemos que, há falta de vontade política e informação para que a população possa cobrar os projetos adequados á todas as demandas citadas. Considerando que, o estado mais uma vez deixa a desejar em todo o território nacional, vamos exigir que todas as obras sejam realizadas e que atendam os quesitos da sustentabilidade, já amparadas pelas novas exigências socioambientais legais.(Samantha Lêdo).

O descaso e a ausência de investimentos no setor de saneamento no Brasil, em especial nas áreas urbanas, compromete a qualidade de vida da população e do meio ambiente. Enchentes, lixo, contaminação dos mananciais, água sem tratamento e doenças apresentam uma relação estreita. Diarréias, dengue, febre tifóide e malária, que resultam em milhares de mortes anuais, especialmente de crianças, são transmitidas por água contaminada com esgotos humanos, dejetos de animais e lixo, conforme o site: (http://www.brasilescola.com/quimica/tratamento-agua.htm).

Os problemas decorrentes da falta de um sistema de coleta, tratamento e disposição final de esgoto sanitário agravam-se quando existe fornecimento de água tratada à população. Cada metro cúbico de água utilizada produz, pelo menos, mais um metro cúbico de esgoto sanitário. Ao levar a rede de abastecimento d’água para uma população, o poder público está implantando “mini-fábricas” de esgoto sanitário nos domicílios atendidos. Números do IBGE indicam que há no Brasil 16,982 milhões de domicílios atendidos por redes de abastecimento de água, mas desprovidos de sistemas de coleta do esgoto sanitário produzido pela utilização dessa água. Isso significa que esses domicílios são “minifábricas” de esgoto sanitário mais potentes e prejudiciais à qualidade de vida da população do que os 8,593 milhões de domicílios que não são atendidos por redes de abastecimento d’água. Todos os 49.142 milhões de domicílios brasileiros produzem esgoto sanitário; Desse total, 40.548 milhões produzem esgoto sanitário de forma mais intensiva e são "mini-fábricas" de esgoto sanitário, porque utilizam a água pelas redes de abastecimento, conforme o Dossiê do Saneamento: http://www.esgotoevida.org.br/agua_esgoto.

Falta de saneamento é o pior problema ambiental


problemas das enchentes urbanas
http://www.ufrrj.br/institutos/it/de/acidentes/mma10.htm


    Por ocasião do Dia Mundial da Água, em 22 de março, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e outras agências da ONU lançaram um relatório sobre o estado do saneamento básico no mundo. A conclusão básica: as águas do planeta estão cada vez mais poluídas e mais pessoas morrem hoje em todo mundo por causa dessa contaminação do que por todas as formas de violência, inclusive as guerras. “O esgoto está literalmente matando as pessoas”, disse Achim Steiner, diretor do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) (O Globo, 23/03/2010).

    As principais vítimas são as crianças :De acordo com o estudo, a falta de água limpa mata 1,8 milhão de crianças com menos de 5 anos de idade anualmente, o que representa uma morte a cada 20 segundos. Grande parte do despejo de resíduos acontece nos países em desenvolvimento, que lançam 90% da água de esgoto sem tratamento. No Brasil, uma das maiores causas de morte associada à falta de saneamento é a diarréia. A doença mata cerca de 2,2 milhões de pessoas em todo o mundo anualmente. Mais da metade dos leitos de hospital no planeta, diz o estudo, é ocupada por pessoas com doenças ligadas à água contaminada. Além disso, mais da metade das escolas primárias em 60 países em desenvolvimento não tem instalações adequadas de água e 2/3 não tem saneamento apropriado.

    Brasileiros ainda adoecem por falta de saneamento básico

    Raquel JúniaEscola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz)

    Imagine se na sua casa não chegasse água encanada. Agora, imagine que o esgoto da sua rua corresse a céu aberto; ou que todo o seu esgoto doméstico e o de seus vizinhos fosse jogado no córrego mais próximo. Se você é morador de uma das 33 cidades brasileiras que não contam com abastecimento de água, ou de uma das mais de duas mil onde não há uma rede coletora de esgoto, sabe que esse cenário vai além da imaginação. De acordo com o Atlas do Saneamento 2011, divulgado recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há uma grande desigualdade entre as regiões do Brasil no quesito saneamento. A partir dos dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB 2008), o Atlas mostra, por exemplo, que na região norte do país, apenas 3,5% dos municípios contam com esgotamento sanitário. De acordo com o estudo, de 2000 a 2008 as condições de saneamento melhoraram levando-se em conta todo o território nacional, apesar disso, menos da metade dos domicílios brasileiros (45,7%) tem acesso à rede de esgoto. "Se a universalização da rede de abastecimento de água, coleta de esgoto e de manejo de resíduos sólidos constitui parâmetro mundial de qualidade de vida já alcançado em grande parte dos países mais ricos, no Brasil a desigualdade verificada no acesso da população a esses serviços ainda constitui o grande desafio posto ao Estado e à sociedade em geral nos dias atuais", considera o IBGE, na apresentação do Atlas.

    De acordo com o Atlas, o saneamento, e mais especificamente o serviço de esgotamento sanitário, avançou mais onde a população mais cresceu, sobretudo nos grandes centros urbanos. Ainda assim, caso você seja morador de uma grande capital, mesmo do sudeste - a região que, segundo o Atlas, é a melhor desenvolvida em termos de saneamento -, pode ser que a poucos quilômetros de sua casa, você encontre situações visíveis de problemas nos serviços de esgoto. A menos de um quilômetro de onde esta reportagem está sendo escrita, no Rio de Janeiro, é possível ver esgoto sendo escoado em um canal de água, um grave problema, conforme alerta o relatório, sem contar o uso que essa população faz da própria água contaminada.

    O tamanho do desafio

    Contaminação das águas e do solo, adoecimento da população, deslizamentos e inundações: de acordo com o Atlas, todas essas são consequências da falta de políticas efetivas de saneamento básico.  Mas para entendermos o tamanho do desafio que o Brasil tem nessa área, é preciso entender o que é saneamento. A professora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), Simone Cynamon, define: "As pessoas confundem o saneamento com os elementos que o compõem, como abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta de lixo, drenagem pluvial. Tudo isso é a infraestrutura básica, e todos esses serviços compõem o saneamento. O ser humano é produtor de resíduos, bebemos água e geramos urina, por exemplo. A água que consumimos vem do rio, é tratada e chega até nós com um nível certo de potabilidade. Ao utilizarmos essa água, geramos um resíduo líquido. Então, toda essa água que descartamos, da cozinha, do banho, é esgoto. O saneamento, portanto, é essa ciência que trabalha a proteção do ser humano e do meio ambiente onde ele está inserido. Porque quanto mais se joga resíduo no meio ambiente, mais ele irá gerar doença no ser humano, é um ciclo vicioso", explica.

    A professora observa que a preocupação do ser humano com esse cuidado é bastante antiga. "Na pré-história, só o fato de existirem poços para proteger a água já era uma medida de saneamento, só que as pessoas não definiam assim. Nos povos da América, no Peru, por exemplo, havia esquemas de captação de água de chuva, formas diferentes de lidar com os resíduos. Na Roma antiga, havia aquedutos, que é uma forma de conduzir a água. Então, o saneamento existia muito antes da sociedade que conhecemos existir", diz.

    A professora ressalta que a população que não tem saneamento é adoecida. Ela destaca que, no Brasil, de 20% a 30% das habitações constituem assentamentos urbanos precários, situação acompanhada de problemas de saneamento. "Há problema de cólera, de hepatite. Mesmo que o esgotamento seja composto de 20% de matéria sólida e 80% de matéria líquida, esses 20% servem de matéria para bactérias e vírus se alimentarem. Há várias doenças de veiculação hídrica gravíssimas, cujo tempo de latência é de dez a 15 dias, de modo que só se perceberá o adoecimento depois. A diarreia que adquirimos muitas vezes não tem a ver com a alimentação, como geralmente se associa, mas é causada justamente por bactérias de água contaminada. Se você lava a fruta com água contaminada, está ingerindo esta contaminação", alerta.

    O Atlas mostra que a média brasileira de internações por doenças relacionadas a problemas de saneamento diminuiu entre 1993 e 2008, passando de cerca de 750 a cada 100 mil habitantes para cerca de 300. Entretanto, só em 2008, nos estados do Pará e Piauí, ocorreram de 900 a 1200 internações para cada 100 mil habitantes - os piores estados brasileiros nesse aspecto, seguidos pelo Maranhão, Rondônia e Paraíba, com índices de internação entre 600 e 900 para cada 100 mil habitantes. Embora o quadro geral brasileiro aponte uma queda no percentual de internações por diarréia, o mapa das mortes por essa doença em 2009, também de acordo com o Atlas, mostra regiões críticas nos estados do Pará, Bahia, Piauí, Maranhão, nas fronteiras entre Paraíba e Rio Grande do Norte, e Goiás e Mato Grosso. A ocorrência de dengue é outro grave problema contido no Atlas. Dessa vez, estados da região sudeste também aparecem entre aqueles com maior incidência da doença. O maior número de casos se concentra, em ordem decrescente, nos estados de Sergipe, Rio de Janeiro, Roraima, Rio Grande do Norte, Tocantins, Espírito Santo e Goiás. Os estados com menores índices concentram-se no sul do país, como o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. São Paulo também está os três estados com mais baixa incidência.

    Por que não há saneamento?

    O Atlas analisa quatro serviços constitutivos do saneamento básico, a rede geral de distribuição de água, a rede coletora de esgoto, manejo de resíduos sólidos e o manejo de águas pluviais. Em relação à distribuição de água, os dados mostram que é na região norte que a população recebe mais água sem tratamento - mais de 25% da água destinada para consumo humano nessa região não é tratada. O abastecimento de água cobre quase a totalidade do país, 99,4%. "Embora seja evidenciado um movimento no sentido da universalização do serviço de distribuição de água por redes de abastecimento, deve-se, contudo, ter em conta que o avanço demonstrado pelos números não significa o pleno atendimento do serviço à totalidade das populações residentes nos municípios. A pesquisa considera como servido todo município que apresenta ao menos um único distrito, total ou parcialmente contemplado com rede de abastecimento de água, independentemente da eficiência do serviço prestado e do número de ligações domiciliares à mesma", pondera o documento do IBGE. Segundo o estudo, existem 33 municípios brasileiros sem abastecimento total de água, entretanto, há outros 793, grande parte deles na região nordeste, nos quais o abastecimento é feito de maneira alternativa, por meio de cisternas ou outros mecanismos.

    A coleta de resíduos sólidos, de acordo com o Atlas, também melhorou, embora a destinação desses materiais permaneça um desafio. Mais de 50% dos municípios brasileiros ainda recorrem a lixões para descartarem o lixo, apesar de a Lei Nacional de Resíduos Sólidos, que vigora desde 2010, preveja que até 2014 todos os lixões do país precisam ser fechados. Os serviços de manejo de águas fluviais também são mais estruturados nas regiões sul e sudeste. Neste aspecto, os municípios menores têm mais deficiências nesse tipo de serviço.

    Os dados do Atlas confirmam que a maior deficiência do país está mesmo no esgotamento sanitário. O chefe do Departamento de Saúde Ambiental (Desa) da Ensp/Fiocruz, Paulo Barrocas, analisa por que há pouco investimento nesse tipo de serviço. "A rede de esgoto está enterrada, então, não é uma obra que todo mundo vê, está debaixo do solo. Outra questão é que ainda existe um pouco essa mentalidade de que a solução para a poluição é a diluição, então, eu posso jogar a minha poluição num corpo d'água receptor, aquilo será diluído e irá se resolver o problema simplesmente diluindo. Só que já está claro, com todas as alterações que nós temos nos corpos d'água receptores, que há uma grande contaminação, e não apenas em megametrópoles, mas também em cidades de médio e pequeno porte", explica.

    A professora Simone critica o corporativismo que impede que soluções baratas sejam adotadas para resolverem os problemas de saneamento da população. "Há um corporativismo do cimento, do tubo PVC. Em países mais pobres se faz inclusive tubulação de rede esgoto de bambu, basta ter um bom preparo, mas não há interesse em fazer essa tecnologia de baixo custo", pontua. Para a pesquisadora, isso gera as grandes desigualdades reveladas no Atlas. "No Nordeste, há água a cem ou 200 metros abaixo da terra, basta escavar e fazer açudes, mas há um conflito de interesses que impede que isso seja feito. Dá para ter saneamento a baixo custo, mas outras coisas têm mais visibilidade política. O abastecimento de água ainda aparece mais, porque dá para fazer uma torre, por exemplo, mas o esgoto fica escondido, então não gera votos. Esse Atlas reflete a falta de políticas sociais", analisa.

     Estações de tratamento não estão preparadas para retirarem novos resíduos

    Paulo Barrocas alerta para um grave problema a ser enfrentado nas próximas décadas: o da qualidade da água.  "Não é que a água irá desaparecer, mas se a qualidade dos nossos cursos d'água ficar muito ruim. Primeiro será muito caro tratar essa água porque ela estará muito contaminada, exigirá uma série de tratamentos mais caros.Segundo, pode chegar a um ponto que se torne inviável consumi-la", complementa.  Ele diz que há hoje a contaminação da água por novos compostos, cientificamente chamados de xenobióticos, ou seja, substâncias sintéticas, que não são encontradas na natureza, mas produzidas em laboratório. O pesquisador explica que a grande dificuldade é que as estações de tratamento não estão preparadas para despoluírem a água e o esgoto desses tipos de substâncias. "São contaminantes sobre os quais não se conhecia muito. O que se espera tradicionalmente de uma estação de tratamento doméstico é que ela tire matéria orgânica, carbono, nitrogênio, fósforo. Na estação de tratamento de efluentes industriais, isso vai depender do processo industrial. Por exemplo, se é um processo de uma indústria metalúrgica, que trabalhe com metais, será necessário algum processo químico de remoção dos metais, e esses são processos específicos. As estações convencionais de tratamento de água não foram pensadas para tirar, por exemplo, os hormônios - que são exemplos de xenobióticos -, que cada vez mais são lançados ", detalha.

    O professor diz que se não houver procedimentos específicos para removê-los, esses materiais permanecem na água. "Esses produtos decorrem de uma série de atividades industriais, principalmente da petroquímica. São principalmente compostos orgânicos, como o bisfenol, que está no produto das mamadeiras. Os agrotóxicos também entram aí. Esses aditivos químicos que utilizamos muito nos alimentos industrializados para terem um aroma, um gosto e uma cor, também. E muitos desses aditivos podem desencadear alergias, principalmente em crianças que têm um sistema imunológico que ainda está sendo desenvolvido. Uma série dessas substâncias sintéticas é lançada no ambiente sem que tenhamos uma certeza absoluta de todo o dano que elas podem causar", alerta. Para o pesquisador, a solução é evitar que esses produtos sejam lançados no meio ambiente, pensando em modificações nos modelos de produção e consumo.

    Problemas de saneamento e problemas sociais

    Paulo Barrocas destaca que as regiões com os piores índices de saneamento são também aquelas nas quais outros direitos fundamentais são precários. Ele comenta sobre como as populações, dependendo do nível de renda e poder, são atingidas desigualmente pelas falhas de políticas públicas de saneamento. "Não se constrói aterro sanitário no Leblon [bairro da zona sul do Rio de Janeiro], se construirá em um local onde as pessoas não conseguem se mobilizar, porque ninguém quer ter um aterro perto de casa. A capacidade de mobilização e de influência dos diferentes grupos da sociedade está diretamente relacionada com o poder socioeconômico que elas têm.Eentão, às pessoas que tem menos poder, será imposto um maior peso pelos desastres ambientais", compara.

    O pesquisador destaca que, entretanto, as condições de saneamento podem afetar todas as pessoas, mesmo em regiões distantes, tanto no interior quanto nas capitais. "Aqui no Rio de Janeiro, por exemplo, captamos água para consumo do rio Guandu. Uma cidade pequenininha pode estar contaminando o rio lá em cima e depois, nós aqui da cidade grande, vamos captar a água para beber. Às vezes a causa de um problema está em um lugar específico, mas as consequências do problema são deslocadas no tempo e no espaço. É difícil caracterizar as consequências de uma contaminação, porque às vezes aquilo irá acontecer 20 anos depois, ou dez quilômetros abaixo. Não tem como fazer uma fronteira e dizer: ‘olha, o vento não pode passar daqui para lá'. Os problemas ambientais, pela sua própria natureza, não respeitam limites políticos, geográficos, por isso necessitam sempre de uma ação conjunta", destaca.

    O Atlas mostrou que as condições de saneamento melhoraram mais nas grandes capitais do que no interior. Para a professora Simone Cynamon, a questão do saneamento deve ser pensada a partir de bacias hidrográficas. "O nosso território é amplamente hídrico, então, essa questão de responsabilidades não pode ser dividida exatamente entre estados, municípios e federação. Como o saneamento não pode ser localizado, ele deve ser pensado na bacia hidrográfica como um todo", opina. O Altas também apresenta um estudo relacionando o saneamento às bacias hidrográficas. Em um dos mapas aparecem os locais onde há mais ameaça de poluição aos recursos hídricos, principalmente com o lançamento de esgoto. Há muitas ameaças detectadas em todo o território brasileiro, mas as regiões com maiores problemas são as litorâneas, com destaque para o Nordeste e o Sudeste.

    Legislação

    Apenas recentemente o Brasil elaborou duas legislações para abordar o problema dos resíduos sólidos e do saneamento como um todo. A Lei nº 11.445/2007 , regulamentada pelo Decreto nº 7.217/2010  estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico no País. Já a Política Nacional de Resíduos Sólidos foi instituída pela lei 12.305/2010 . "É preciso que todos os entes federados participem para que essas políticas sejam implementadas. Na questão dos resíduos sólidos, a sociedade também é um dos atores que estão previstos naquela política. Então, sem a política não se tem nada, mas é preciso tirar essa letra do papel e aí depende da mobilização da sociedade e do interesse dos governantes", avalia Paulo Barrocas.

    A Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (SNSA), ligada ao Ministério das Cidades, está elaborando um Plano Nacional de Saneamento Básico (PlanSab), conforme determina a lei 11.445. De acordo com a página eletrônica da Secretaria, o plano "será um instrumento fundamental para a retomada da capacidade orientadora do Estado na condução da política pública de saneamento básico e, consequentemente, da definição das metas e estratégias de governo para o setor no horizonte dos próximos vinte anos, com vistas à universalização do acesso aos serviços de saneamento básico como um direito social, contemplando os componentes de abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, e drenagem e manejo das águas pluviais urbanas". A SNSA foi procurada pela reportagem para comentar os dados divulgados no Atlas do Saneamento 2011, mas respondeu, por meio da assessoria de imprensa, que ainda não havia concluído a análise dos resultados e que se pronunciará posteriormente. "Apesar de o saneamento como política pública remontar à década de 1930, quiçá ao século XIX, a dívida social com grande parte da população persiste enquanto um fato permanente na sociedade brasileira, constituindo um desafio a ser transposto em curto e médio prazos pelo Estado e pela sociedade em geral", conclui o Atlas de Saneamento 2011.

    Coleta de esgoto da Cedae só chega a 38,9% dos clientes do Rio





    A Cedae, apesar do gigantismo, até hoje só coleta esgoto de 38,9% de seus consumidores. Parte de uma população de cerca de 13 milhões de pessoas, que vive em 64 dos 92 municípios do estado. Um levantamento feito pelo GLOBO com base em relatórios de desempenho da companhia revela que, em cinco anos, quase não houve avanço na oferta desse serviço. O índice de coleta de esgoto, que era de 38,9% em 2011, passou para 38,87% em 2015 — ainda com uma discreta queda ocorrida devido à saída de parte da Zona Oeste, que teve o serviço privatizado, das contas da companhia. Outro indicador reforça a percepção de que a situação ainda está muito longe do ideal: o total da população atendida pelo serviço de coleta de esgoto é ainda muito baixo e teve um crescimento tímido, passando de 3,8 milhões de pessoas para 4,13 milhões no ano passado.


    O quadro é preocupante: só quatro em cada dez consumidores têm acesso à coleta de esgoto. O avanço no abastecimento de água, embora muito mais bem resolvido, também foi pequeno no mesmo período, apenas 2,7%. De acordo com os dados divulgados pela Cedae no ano passado, 87% das residências, o que significa que não houve universalização do serviço.

    Para especialistas, a regulação tardia e ainda ineficiente e questões administrativas estão por trás dos resultados operacionais ruins e a saída, segundo eles, passa pelo debate sobre parcerias público-privadas e pela concessão do serviço à iniciativa privada. A atual crise financeira enfrentada pelo estado pode agravar os problemas históricos da empresa.

    — A maior tragédia social do Brasil é o saneamento básico. São muitos problemas. O desafio é gigante. A Cedae não tem, nem terá capacidade de investimento para fazer frente a esse desafio. O único caminho possível é o das parcerias público-privadas, atraindo investimentos do setor privado, oferecendo a necessária segurança jurídica, criando modelos de governança diferentes dos atuais. A Cedae deve abandonar a pretensão de ser a única ou a maior gestora dos serviços e inverter esse quadro, se preparando para ser a nossa agência reguladora. Quanto mais regulador e menos operador, mais forte ficará a Cedae — opina o economista e ambientalista Sérgio Besserman.

    O engenheiro Paulo Carneiro, pesquisador do Laboratório de Hidrologia da Coppe/UFRJ, destaca, no entanto, que haverá regiões onde a iniciativa privada poderá não ter interesse em assumir os sistemas. Nesses casos, ele afirma que as próprias prefeituras poderão fazer a operação.

    — Em cidades como Magé, Guapimirim, Paracambi, Japeri e Queimados, é comum o uso pela população de poços artesianos individuais e coletivos. São iniciativas não-institucionais e sabemos que são facilmente contamináveis. Existe uma insegurança hídrica muito grande pela precaridade do sistema de abastecimento. Nesse caso, a captação, o tratamento e a distribuição poderiam ser municipalizados. Seria interessante destinar recursos para um sistema de abastecimento público, financiado por tarifas ajustadas à situação econômica das populações, que cubra os custos operacionais sem o compromisso de gerar lucros. Em áreas mais carentes, onde há população de baixa renda, dificilmente a iniciativa privada vai se interessar. Mas não dá para ignorar e permitir que essas pessoas consumam água abaixo da qualidade. Dificilmente, a Cedae conseguirá dar conta de atender a todos esses municípios da Região Metropolitana — observa Carneiro.

    A Cedae, fundada em 1975, passou 40 anos sem ser fiscalizada por uma agência reguladora. Em agosto do ano passado, a Agência Reguladora de Energia e Saneamento Basico do Estado do Rio (Agenersa) passou a avaliar a empresa, conforme determina a Lei Federal de Saneamento (11.445/2007). Uma das principais atribuições da agência será auditar o cálculo da tarifa da água. O valor era, até então, reajustado por ato da presidência da Cedae, de acordo com as necessidades da empresa. Segundo dados do último levantamento do Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento (SNIS) — que leva em consideração outras empresas do ramo, além da Cedae —, o estado do Rio tem a quarta maior tarifa média do país e a maior do Sudeste. O preço médio cobrado é de R$ 3,64 por metro cúbico. Em São Paulo, estado mais populoso da região, é de R$ 2,26

    Perfil do saneamento básico no Brasil

    Compartilhe


    As políticas públicas de saneamento básico, sobretudo as voltadas à implantação e ampliação de redes coletoras de esgotos, não conseguiram, na última década, acompanhar o crescimento demográfico da população brasileira nas áreas urbanas.

    A falta de sistemas de esgotamento sanitário atinge quase metade (44,8%) dos municípios brasileiros. A Região Norte é a que apresenta a situação mais grave. Apenas 3,5% dos domicílios de 13% dos municípios da região têm acesso à rede coletora de esgoto.

    A informação faz parte do Atlas do Saneamento 2011 do Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado, nesta quarta-feira (19/10), com base na Pesquisa Nacional de Saneamento Básico de 2008. A pesquisa aponta que, dos serviços de saneamento, o esgotamento sanitário é o que apresenta menor abrangência municipal. Em 2008, 68,8% do esgoto coletado no país recebeu tratamento. Essa quantidade, porém , foi processada por apenas 28,5% dos municípios brasileiros, confirmando acentuadas diferenças regionais. Enquanto 78,4% das cidades paulistas ofertam sistemas de coleta e tratamento de esgotos à população, no Maranhão esse percentual é só 1,4%.

    São Paulo é o único estado em que quase todos os municípios aparecem providos de rede coletora de esgoto, com exceção de Itapura (no noroeste do estado). Acre, Amazonas, Alagoas, Minas Gerais e Rio Grande do Sul apresentam taxa inferior a 50% de municípios assistidos.

    A maioria dos municípios sem sistema está em áreas rurais e tem população dispersa, menos de 80 habitantes por quilômetro quadrado. Nesses locais, os dejetos são jogados em fossas sépticas, valas a céu aberto, fossas rudimentares ou diretamente em rios, lagoas, riachos ou no mar.

    saneamento ambiental é o conjunto de ações que visam à melhoria da qualidade de vida das populações através do controle do meio físico para evitar doenças e propiciar uma maior higiene social. Ele se estabelece a partir de ações como o fornecimento de água potável de qualidade, coleta de lixo, tratamento de esgoto, limpeza das vias públicas, contenção de enchentes, entre outros. A relevância encontra-se na preservação tanto do meio de vida dos habitantes quanto do meio ambiente.
    Portanto, para uma melhor qualificação das condições de vida e de desenvolvimento humano de um país, é necessário que toda a população seja contemplada com as medidas acima apresentadas, o que não ocorre ainda no Brasil. Segundo o IBGE, cerca de 98% da população possui água potável e 79% não dispõe de acesso à rede sanitária, conforme dados de 2010. Outro dado de 2012, também do IBGE, afirma que 29,7% dos domicílios no Brasil não possuem acesso simultâneo à água, esgoto, coleta de lixo e eletricidade.
    A ausência de saneamento básico e ambiental diminui a qualidade de vida
    A ausência de saneamento básico e ambiental diminui a qualidade de vida


    Fonte:

    Fiocruz
    http://www.scielo.br/pdf/esa/v19n1/1413-4152-esa-19-01-00087.pdf

    http://www.abes-mg.org.br/visualizacao-de-clippings/ler/2583/perfil-do-saneamento-basico-no-brasil

    http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/saneamento-ambiental.htm

    Leia mais sobre esse assunto em 
    http://oglobo.globo.com/rio/coleta-de-esgoto-da-cedae-so-chega-389-dos-clientes-do-rio-19137845#ixzz46VXwNyIN 
    © 1996 - 2016. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização. 

    Nenhum comentário:

    Postar um comentário

    Muito Obrigada, deixe o seu e-mail e contato.