DIGA NÃO AOS AGROTÓXICOS
Abelhas morrem por pesticidas, constatam pesquisadores
Repórter: ILONÍ KOMMERS BARRIENTOS
A utilização indiscriminada de pesticidas nas plantações brasileiras tem contribuído para o extermínio de milhões de abelhas de todas as espécies. A fabricação do mel e a produção de frutos e sementes cultiváveis sofrem o impacto da eliminação desses insetos que são altos polinizadores. Padecem o agronegócio e o consumidor.
Os apicultores de Ribeirão Preto e região estão sofrendo a extinção de suas colmeias, isto devido, principalmente, ao veneno que é colocado, através de aviões, sobre as plantações.
Todo pesticida utilizado, nos pomares, nas regiões circunvizinhas, ou ainda, aquele colocado em regiões florestais onde estão as colmeias, causa a morte das abelhas. Esta pode ser aguda ou lentamente, conforme a dose.
O apicultor e removedor de enxames ou colmeia de abelhas, Pedro Assis Caetano, afirma, devido a uma experiência vivida, que a própria cera fabricada por abelhas pode estar envenenada.
A chamada cera “oveolada”, vendida no mercado para ser colocada nas caixas onde se formarão novas colmeias, pode estar contaminada com o pesticida e matar as abelhas. "Eu abri a caixa, tirei a cera e enquanto a distribuía, elas entraram na caixa vazia e foram saindo e morrendo à beira da caixa".
Caetano diz ter perdido dez enxames, entre 800 mil a um milhão de abelhas em apenas uma aplicação de agrotóxicos por avião. O vento trouxe o veneno direto para dentro das colmeias enquanto era jogado na atmosfera pela aeronave.
Muitas pessoas jogam veneno e matam as abelhas, ao constatarem a existência de enxames em suas propriedades. Deve-se levar em conta que um enxame tem de 80 a 200 mil abelhas, dependendo da espécie. E são 40 mil espécies diferentes.
Para Caetano, o "Regente", um pesticida distribuído pela Bayer do Brasil, é o mais atroz operador contra os insetos. Consultada, a Bayer não se manifestou a respeito. O pesticida é usado largamente em pulverizações aéreas e em aplicações diretas sobre os pomares.
A polinização e o agronegócio
Conforme Maria Cecília Rocha, pesquisadora da faculdade de Biologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Rio Claro, das 250 mil espécies de plantas que tem flores e frutos existentes no planeta, aproximadamente 90% são polinizadas por animais. Estima-se que 40% desses animais (100 mil) sejam abelhas.
A polinização ocorre na flor da planta. É a transferência do grão de pólen da antera para o estigma ou, diretamente, para o óvulo, sendo essencial para a reprodução, isto é, para obter-se o fruto.
Ainda, segundo a especialista Maria Cecília, o conhecimento, por parte do agronegócio, é muito reduzido quanto à importância das abelhas para a polinização. Dá-se apenas importância comercial ao mel produzido pelas abelhas.
O professor doutor Aroni Sattler, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), diz que um terço da produção de alimentos do mundo é atribuída diretamente à presença dos polinizadores. O dado, segundo Sattler, está disponível na literatura mundial.
Para o Professor, está faltando uma parceria entre pomicultores (produtores de maçãs) e apicultores, no caso da polinização das macieiras, uma vez que o negócio seria bom para ambos. No Rio Grande do Sul, embora não exista um levantamento específico sobre perdas, os pomicultores admitem que, anualmente, perdem entre 10 e 20% da produção. O prejuízo é atribuído a vários fatores, principalmente aos climáticos. Mas sabe-se, diz o professor, que a escassez de polinizadores, pelo uso indiscriminado dos agrotóxicos, é o principal responsável por essas quedas de produção.
Na tangência, o professor doutor Osmar Melaspina e a doutoranda Maria Cecilia Rocha, sua orientanda, declaram que o consumo anual de agrotóxicos no Brasil é superior a 300 mil toneladas de produtos formulados. Nos últimos 40 anos, o consumo de agrotóxicos aumentou 700%, enquanto a área agrícola aumentou apenas 78%.
Desta análise, concluem os pesquisadores, “as abelhas, embora não sejam o alvo desses agentes tóxicos, são altamente vulneráveis à contaminação por forragear nas áreas agrícolas contaminadas”.
Em São Paulo, os produtores de soja admitem que a produção aumenta em 18% quando contam com a presença de abelhas.
Em Iacanga, interior do estado, em agosto de 2010, um fato ligado ao uso do agrotóxico: morreram mais de 250 colmeias e cerca de 10 toneladas de mel foram contaminadas. O incidente ocorreu devido à aplicação incorreta do agrotóxico Fipronil numa plantação de laranjas próxima aos apiários.
Em dezembro do mesmo ano, em Braúna(SP), mais de 500 mil abelhas pereceram. Nesse caso, teriam sido envenenadas pela pulverização de agrotóxico por avião em canaviais. Deste fato, falta confirmação.
Em Santa Catarina,cerca de 100 mil colmeias de abelhas foram dizimadas no ano passado. São bilhões destes insetos exterminados.
Nesse mesmo estado ocorreu um caso em que morreram 35 colônias de abelhas, em dois apiários diferentes. Verificou-se que todas as abelhas estavam mortas ao redor e dentro das colmeias. A análise toxicológica confirmou a intoxicação por inseticidas do grupo dos carbamatos, conforme citação da pesquisadora Maria Cecília Rocha.
“Quando ocorre uma mortandade aguda (redução drástica da população de abelhas por colmeia), normalmente podemos atribuir ao uso indiscriminado de inseticidas na soja, no arroz, na acácia-negra e na fruticultura, através da pulverização e neste caso a pulverização aérea é a mais danosa pelo efeito da deriva”, afirma Sattler.
O cientista explica que a produtividade seria aumentada caso o número de colmeias por hectare fosse adequado (até 10 colmeias por hectare, dados de literatura europeia e americana), porém, como em todo o mundo, desde 2007 está havendo reduções fulminantes das colmeias, em todas as estações do ano.
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