O último ciclo de lutas nos deixou como herança a militância do ser social petista. Uma de suas
fortes características é de agitação contínua, buscando cada vez mais aumentar o número de filiados ao
partido, acreditando que assim será possível acumular para a ruptura revolucionária.
A agitação somente surte efeito no momento que trata da realidade da classe trabalhadora. Ao
analisar o nível de consciência da classe trabalhadora, o sincero militante herdeiro da militância petista
trata rapidamente de adequar sua agitação ao estado da classe, ou seja, uma consciência burguesa, no
máximo reformista. Acaba por trocar as mãos pelos pés e achar que o programa do partido da classe
trabalhadora é reformista.
Há ainda aqueles que ignoram a situação da classe trabalhadora e agitam a plenos pulmões o
socialismo.
Como se bastasse gritar alto para que as massas os acompanhassem em direção à derrubada
do Estado burguês.
Ambas as atuações pragmáticas erram por ignorar completamente as condições concretas do
proletariado, acreditando que independentemente do momento histórico é hora de agitar. O que se
demonstrou gravemente equivocado por diversas vezes na história.
Os maiores partidos socialistas, hoje, ignoram o pilar central da teoria marxista, o materialismo
histórico dialético, que define categoricamente que o que determina a consciência das massas, em última
instância, são as condições objetivas de vida.
''A tarefa de todo revolucionário é fazer a revolução''. Disso todo militante comunista deve ter
certeza, no entanto muitos militantes de esquerda erram ao aceitar apenas esta premissa, acreditando
ser necessário apenas uma correta organização. Um comunista deve saber tirar da realidade concreta a
melhor tática que acumule estrategicamente para a revolução, isso implica analisar corretamente as
condições objetivas do momento e elaborar a sua atuação, o que se categoriza dentro das condições
subjetivas.
Lenin afirma que uma situação revolucionária apresenta necessariamente três condições objetivas:
''
1) Impossibilidade das classes dominantes de manter seu domínio sob forma imutável, crise das
'cúpulas' (...)
2) agravamento extremo da miséria e da angústia das classes oprimidas; e
3) (...)atividade
das massa [em] ação histórica independente.'' Lembrando que ''Sem essas mudanças objetivas,
independentes da vontade de tais ou tais grupos e partidos ou mesmo de tais ou tais classes, a revolução
é, de maneira geral, impossível.
'' Assim, em situações em que essas condições sequer despontam no
horizonte, de nada adianta tentar convencer as massas a se levantarem contra a ordem.
Se é verdade que não é possível uma ruptura somente através de organização e panfletagens, sem
que haja as condições objetivas que empurrem as massas à uma ''ação histórica'', o inverso também é
verdadeiro:
''(...) a revolução não surge de toda situação revolucionária, mas somente nos casos em que, a
todas as mudanças objetivas acima enumeradas, vem juntar-se uma mudança subjetiva, a saber: a
capacidade, no que concerne à classe revolucionária, de conduzir ações revolucionárias de massas
bastante vigorosas para destruir completamente (ou parcialmente) o velho Governo, que não ''cairá''
jamais, mesmo em épocas de crises, se não for forçado a sucumbir.'' (Lenin).
O trabalho de organizar a classe trabalhadora enquanto vanguarda das massas revolucionárias é o
que se caracteriza como condição subjetiva da revolução.
Deve ficar claro que as duas condições devem estar postas simultaneamente, o que siginifica que
as condições subjetivas devem ser trabalhadas desde o momento onde as condições objetivas não
estejam maduras para a revolução, não se tratando portanto de esperar o levante autônomo das massas
para então tentar dirigí-la. Devem-se travar as lutas mesmo que saibamos ser impossível a ruptura
socialista no momento, trantando de nos educar junto aos trabalhadores mesmo nos momentos mais
difíceis para se organizar.
Façamos o exercício:
As condições objetivas atuais não configuram uma situação revolucionária:
As classes dominantes gozam de tranquilidade.
A burguesia consegue extrair a mais-valia sem
grandes impasses, o Estado segue muito bem, conduzido pelo partido que já foi o hegemônico entre a
esquerda brasileira e hoje consegue neutralizar a ação da classe trabalhadora através da incontestável
crença de que é possível avanços por dentro do Estado burguês que favoreçam o proletariado, e, caso
haja alguma contestação, os braços armados não hesitam em pesar a mão em cima do trabalhador.
A angústia e a miséria não atingem a população a ponto destas perderem as esperanças, e,
tampouco a classe se movimenta espontaneamente.
Qualquer possibilidade de mobilização por parte do proletariado é suprimida logo no primeiro
momento pela repressão violenta a qualquer iniciativa de enfrentamento ou através do atrelamento dos
sindicatos ao governo e ao reformismo.
Não vemos na realidade atual uma organização fortemente inserida na classe trabalhadora,
especialmente no proletariado industrial, com Programa construído e com inserção nacional,
funcionando como um exército com força material para organizar enfrentamentos políticos de maior
monta contra a burguesia. As condições subjetivas ainda são bastante insatisfatórias.
Os socialistas no Brasil, em geral, têm aplicado táticas completamente descompassadas da
realidade. Sem apoio expressivo no seio da classe trabalhadora, dispersando esforços em áreas de
atuação secundárias, como em setores populares amplos ao invés de focar na vanguarda da revolução
socialista, o proletariado. Sem falar nos que já debandaram em direção ao reformismo e hoje se
lambuzam no banquete do Estado burguês.
O que é possível tirar como tarefa hoje é influir naquilo que os comunistas têm capacidade, ou seja,
na construção das necessárias condições subjetivas para o momento da possível ruptura revolucionária.
Para isso, devemos nos empenhar primeiramente em formar os quadros revolucionários que serão
capazes de analisar a situação concreta de cada momento e tirar a melhor tática que acumule para a
revolução. Nesse caso mais nos interessa a qualidade de um militante do que a soma de muitos
militantes incapazes de atuar consequentemente. Um quadro deve ter clareza da teoria marxista para
saber tirar ações a partir da realidade e saber organizar para potencializar os possíveis ganhos
estratégicos nesse momento de recuo e dar direção correta no momento de canalizar as forças em
direção à derrubada do Estado.
Um quadro comunista não pode se formar somente através do estudo teórico, mas deve aprender
na prática a aplicar a teoria, por isso não se deve esperar até o momento em que as condições objetivas
estejam prontas para a revolução.
Quadros comunistas devem também atuar diretamente junto às
massas, aprendendo a organizar e conduzir lutas específicas que são minimamente possíveis dentro do
momento de recuo.
Novamente o que mais interessa aqui não é a agitação para as massas, mas a organização dos
setores que ousam levantar a cabeça e que necessariamente serão abatidos por se caracterizar ainda em
lutas isoladas.
Descartando o infrutífero trabalho de agitação precoce (desacompanhada de um processo de
formação qualitativa) e tendo clareza de que a tarefa posta hoje é o recrutamento e formação de
quadros comunistas, avaliamos aqui as possibilidades de ganhos dentro do movimento estudantil.
O ME
Necessariamente a base estudantil refletirá as divisões de classe que existem na sociedade, uma
vez que os estudos se tornaram necessários ao capital, não somente da burguesia como ao proletariado
em geral, ainda que com níveis diferenciados para as classes.
Teremos estudantes trabalhadores, filhos
de trabalhadores e filhos da pequena e grande burguesia.
Portanto devemos manter a afirmação de que não há um recorte de classe ontológico ao
movimento estudantil, como se pode afirmar entre outros movimentos sociais (sindicato de metalúrgicos
é necessariamente um sindicato da classe proletária). Caracteriza-se, pois em um setor policlassista.
Apesar dessa necessária classificação, percebe-se claramente a crescente proletarização do meio
estudantil graças a diversos fatores, podendo ser destacados a proliferação do ensino privado superior,
onde a grande maioria de estudantes já trabalha pra pagar seus estudos e pela proletarização gradual dos
setores dantes dominados pela burguesia, como por exemplo, a medicina e direito.
O ME universitário e secundarista de esquerda tendem a ser aliados da classe trabalhadora no
momento de ascenso de lutas das massas, atuando como um dos setores populares que não são
dirigentes da revolução socialista, mas que podem prestar importante apoio.Uma das características que
justifica o constante trabalho de comunistas nesse setor é justamente essa possível atuação enquanto
massa aliada à classe trabalhadora.
Para que isso seja possível, os comunistas devem ser conhecidos por entre as massas, pois, de nada
adianta as massas se movimentarem espontaneamente e de repente os comunistas saltarem à sua frente
e tentar dirigir o processo. No entanto, o que mais podemos tirar de acúmulo para a revolução neste
setor é a formação de quadros comunistas por ser um ambiente propício para esse objetivo. O simples
fato de estudantes terem a predisposição para o estudo permite que eles sejam ganhos para a teoria
marxista que não é de fácil apropriação para aqueles que não têm o estudo como atividade contínua,
como a massa trabalhadora hoje.
Por não ser um ambiente hostil para a militância, como é nas empresas, é possível um contínuo
trabalho de comunistas dentro das escolas e universidades, permitindo que mais pessoas tenham a
possibilidade de vivenciar a luta prática.
Dentro das escolas e universidades é possível que um quadro desenvolva suas capacidades de
analisar a situação concreta e tirar ações em resposta a elas. Seja em momentos onde é difícil sensibilizar
a massa estudantil, seja em momentos que esporadicamente ela se levanta, o que exige um alto grau de
análise, reflexão e atuação dos quadros comunistas na vanguarda desses movimentos.
Por se caracterizar como espaço de alta rotatividade (estudantes se formam, em média, em 4
anos), é necessário um contínuo esforço de organização e convencimento, já que o militante terá de
buscar as melhores formas para isso no menor espaço de tempo.
Nesse setor há a oportunidade de enfrentamentos diretos com aqueles que se coloquem como
opositores, seja dentro do ME, seja da administração das escolas e universidades. Confrontos esses que
podem ser argumentativos e até mesmo físicos.
As disputas teóricas permitem um grande avanço para os militantes. É necessário fortalecer seus
argumentos para enfrentar opositores necessariamente qualificados, como professores que enfrentam
estudantes a muitos anos mais do que o militante está na escola ou universidade.
Há também a saudável prática de articulação do ME com outras categorias da universidade e
sociedade, trabalho essencial para uma organização revolucionária.
Esses espaços se caracterizam então como verdadeiras escolas de atuação, sem apresentar sérios
riscos aos envolvidos.
Os diferentes setores da educação
Secundaristas
Nas escolas públicas há uma grande concentração de filhos do proletariado, trabalhadores
propriamente ditos e futuros trabalhadores produtivos.
Aí está a possível vanguarda da revolução,
portanto deve ser de interesse dos comunistas ganharem militantes desde esses espaços.
Apesar de esses alunos viverem as condições da classe, têm a ilusão de que conseguirão algum
ascenso social, o que dificulta a consciência de classe, pois precisarão ainda vivenciar o mundo do
trabalho para entenderem a inutilidade de seus sonhos.
Mesmo sendo interessante conseguir militantes sérios a partir das escolas públicas de ensino
fundamental e médio, o mais provável é que esses atuem mais como massas dirigidas em processos de
ascenso. Comunistas então podem conseguir bons avanços dentro desse setor.
Nas escolas privadas, as chances de conseguir militantes são extremamente baixas, pois, muitas
vezes, sequer conhecem a realidade da classe trabalhadora. Estes não somente sonham com uma vida
burguesa, como a vivenciam.
Técnicos
O ensino técnico deve ser um setor de atuação dos comunistas, pois daí sairá grande parte do
proletariado industrial. Apesar de misturar também ensino de atividades não-produtivas, esses alunos
necessariamente já estão pensando o mundo do trabalho.
A atual forma de organização do movimento estudantil, em alguns casos, pode não ser compatível
com essa categoria. Uma outra maneira de organizar esse setor faz-se necessária, porém, ainda não
fomos capazes de formulá-la. Isto é conseqüência de nossa falta de experiência, pois a expansão de tal
modalidade de ensino é bastante recente. Tal tarefa não será fruto apenas de uma ou outra organização,
mas da capacidade do conjunto da classe de criar seus próprios instrumentos de luta adequados às
mudanças no mundo trabalho.
Superior
Este setor é o que mais comprometido está com os estudos, sendo mais provável formar quadros
intelectuais aqui do que no ensino básico.
É possível definir o foco de atuação pelos diferentes cursos. É mais provável que um engenheiro
atue no setor produtivo e que um estudante de história seja possivelmente professor.
Um estudante de engenharia é mais fácil de ganhar para o comunismo do que um engenheiro
formado, portanto vale o esforço de comunistas para tentar ganhá-los.
As universidades públicas
costumam ser espaço de efervescência política, podendo demonstrar que a sociedade está em disputa e
um posicionamento claro se faz necessário. Da grande maioria de engenheiros que se afirmarão
enquanto partidários da burguesia é possível ganhar alguns para a política operária.
Os estudantes já ganhos podem ter algumas facilidades que os trabalhadores não têm: como
disponibilidade de horário, permitindo dedicação maior às reuniões e estudo revolucionário. É possível
para o estudante viajar, por exemplo, e articular a luta nacionalmente.
Já no setor privado, assim como nas escolas técnicas, é mais difícil uma atuação do tipo clássico de
movimento estudantil, os estudantes, por trabalharem, não têm tempo para infindáveis reuniões ou
constantes viagens. No entanto estes são estudantes já proletarizados, sendo, portanto importante
ganhá-los também para o comunismo. Essa organização também será uma das formas que evidenciarão a
autonomia histórica da classe, sua capacidade de criar instrumentos para suas lutas.
Pensando a longo prazo, é necessário que além do proletário urbano e rural, no período pósrevolução,
serão necessárias pessoas com formações diferenciadas. Engenheiros, médicos, professores,
economistas (etc) comunistas serão extremamente necessários para a reorganização da sociedade.
Reforço do trabalho do comunista
O comunista atua no movimento estudantil para que mais pessoas se tornem comunistas, seu
interesse é se qualificar enquanto quadro e ajudar outros a se formarem. É, portanto um trabalho
premeditado servindo a um objetivo estratégico e não um voluntarismo à causa dos estudantes.
ANEXO
''O proletariado, força motriz e dirigente da revolução”
O proletariado - produtor da mais-valia, fonte dos lucros de toda a burguesia - é a classe que tem
melhores condições para se transformar na força motriz e dirigente da transformação socialista. Porque o
proletariado é a única classe que, pelo papel que desempenha na produção, pode se propor à
apropriação coletiva e social dos meios de produção: não se pode liquidar os oligopólios dividindo-os
pelos operários, como poderiam fazer camponeses com o latifúndio. O proletariado é obrigado a lutar, de
início na resistência econômica à exploração capitalista e depois em combates políticos, coletiva e
constantemente, devido à exploração permanente de sua força de trabalho, pois a extração da mais-valia
é vital para o capital. O proletariado inicialmente aprende a recorrer às greves, e depois a outras lutas de
massas de caráter mais amplo.
Para vencer e superar o capitalismo é necessário uma revolução social, em que os de baixo passem
para cima, como tem demonstrado a história de luta do proletariado.
O Estado capitalista, com suas
forças armadas, sua polícia, sua justiça e legislação, seus parlamentos, seus governos e suas instituições
deve ser destruído, desmontado porque é essencialmente instrumento que se criou para perpetuar a
exploração capitalista. Para conter as tentativas da burguesia de restabelecer o capitalismo, a história
tem mostrado que o proletariado tem de recorrer à criação de um novo Estado que, em essência,
constitui-se como um anti-estado, devido à provisoriedade de sua função e existência, chamado
conceitualmente de Ditadura do Proletariado, isto é, o proletariado organizado como classe dominante.
As tentativas de superar o capitalismo tendo como via estratégica a conquista de espaços no
aparelho de Estado capitalista têm historicamente se mostrado ineficazes, além de dolorosas para o
proletariado. Tais experiências têm, via de regra, como desfecho, ou a cooptação do movimento operário
(é o caso da social-democracia européia e brasileira representada no PT), ou a reação da burguesia, como
foi o caso da Unidade Popular no Chile. As únicas experiências históricas que colocaram concretamente
para o proletariado a questão da "tomada do poder" como objetividade palpável foram aquelas baseadas
na luta direta e na organização independente do proletariado em embriões do Estado Socialista.
“As tentativas de superar o capitalismo conquistando o governo de um país através de eleições,
isto é, nos marcos do Estado burguês, têm levado ao fracasso. A luta de massas organizadas e
conscientes é fundamental para obter sucesso contra o capitalismo.” (Luta Socialista)
JUVENTUDE DA LUTA SOCIALISTA - PR
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