História e evolução dos movimentos agrários: Os movimentos de protesto no
campo brasileiro tiveram início nos anos 50, com a constituição e multiplicação de
sindicatos de trabalhadores rurais, e, posteriormente, com a formação das
chamadas Ligas Camponesas, notadamente na Região Nordeste do país. Com o
crescimento daquelas organizações, outros atores como o Estado, os partidos
políticos e a Igreja Católica, entraram vigorosamente em cena, disputando o
controle do processo de organização dos pobres do campo2
.
No Rio Grande do Sul, suas principais lideranças fundadoras foram o ativista de
esquerda Paulo Schilling, o deputado Ruy Ramos, e o Prefeito de Encruzilhada do
Sul Milton Seres Rodrigues. Posteriormente, Schilling foi convidado por Leonel
Brizola, então Governador do Estado do Rio Grande do Sul, para assumir a chefia do
setor agrário em sua assessoria.
A atmosfera de crescente radicalização ideológica manifestava-se em atos como o
reconhecimento do MASTER (Movimento dos Agricultores Sem-Terra) como
entidade de "utilidade pública", bem assim o apoio do governo do Estado aos
"acampamentos" de sem-terra exigindo a expropriação das fazendas ao lado das
quais estavam posicionados. Na Região Nordeste do país, na mesma época,
Francisco Julião, líder das Ligas Camponesas, sublevava o campo e incentivava a
violência contra os proprietários de terras, criando um clima de "guerra civil".
Como resultado dessa agressividade, a questão agrária acabou tornando-se um
importante elemento detonador do movimento político-militar A chamada "Revolução Democrática de 1964 a que todos os militantes de esquerda com a mídia chamam de golpe de 1964.
A
pacificação no campo foi promovida com a supressão dos movimentos
organizados e com a introdução de legislação de teor reformista, como, o Estatuto
da Terra3
.
A emergência do MST: Os movimentos de protesto no meio rural readquiriram
vigor no final da década de 70, por várias causas, entre elas a liberalização política
do período e, da mesma forma, o processo - sem precedentes - de modernização e
desenvolvimento da produção primária. O MST surgiu no Estado do Rio Grande do
2 Conforme NAVARRO, Zander. "Mobilização sem emancipação" - as lutas sociais
dos sem-terra no Brasil. Publicado em SANTOS, Boaventura de Sousa (org). Produzir
para viver. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, p. 189-232.
3 Lei Federal nº 4.504, de 30 de novembro de 1964.
3
Sul, atendendo à especificidade econômica e cultural da região. Sobre o tema,
explica ZANDER NAVARRO4
:
Os determinantes principais que contribuíram para a emergência e o
desenvolvimento desses novos movimentos sociais rurais, iniciando-se pelo Sul
do Brasil (e no Rio Grande do Sul em particular), entre o final da década de 1970
e os anos posteriores, poderiam compor uma longa lista, incorporando desde
aspectos relacionados à história da participação política naquele estado, à
existência de uma 'cultura de organização' que as comunidades rurais
tradicionalmente apresentam ou, ainda, elementos reativos como a oposição
ao controle exercido pelas elites locais
Somente após a sua consolidação nos estados do Sul, durante a
maior parte dos anos oitenta, é que foi possível, gradualmente, para estas
novas organizações, ampliar seu raio de ação para os demais estados, o que
ocorreu na segunda metade daquela década e, em especial, a partir dos anos
noventa5
.
Agregadas certas condições objetivas (modernização Tecnológica da
produção primária, liberalização política e atuação da Igreja Católica) às condições
culturais específicas da Região Sul (a "cultura de organização" de que fala
NAVARRO), delineava-se a possibilidade de eclosão de um movimento contestatório
no campo brasileiro.
O MST veio preencher esse espaço na cena política nacional, articulando um
discurso de rosto fortemente anticapitalista e esquerdista.
A evolução do MST: Segundo Zander Navarro, pode-se dividir a história do MST em
quatro momentos principais6
:
a) O primeiro momento é o dos anos de formação, do início da década de 1980
até 1985, quando os primeiros grupos de sem-terra foram organizados,
principalmente no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Nesse período, o MST contou com a forte presença de mediadores religiosos
ligados a grupos da Igreja Católica, inclusive como dirigentes do próprio movimento
e, no geral, selecionou ações de pressão que não tinham caráter de enfrentamento,
optando frequentemente pela negociação e tendo como interlocutor principal os
governos estaduais.
b) A segunda etapa ocorreu entre os anos de 1986 e 1993. Neste período, as
ações do Movimento gradualmente tornaram-se principalmente
confrontacionais (simbolizado, inclusive na mudança do slogan principal, de
"Terra para quem nela trabalha" para "Ocupar, resistir, produzir"), com
vários episódios de enfrentamento com policiais, em virtude de uma nova
orientação interna, que privilegiava esta tática de luta - particularmente, a
partir da recusa dos sem-terra em submeter-se à direção assumida até então
por mediadores da Igreja Católica.
O terceiro momento engloba os anos mais recentes, iniciando-se em 1994,
quando o MST viu-se envolvido em um conjunto novo de fatos políticos,
como a nova realidade dos assentamentos, agora em grande número, que
exigia respostas rápidas quanto à organização da produção e dos produtores
nestas áreas.
O fato marcante, no entanto, é que o MST, a partir daquele ano, estabeleceu-se
definitivamente em São Paulo, o Estado mais influente da Federação, conseguindo
consolidar-se e descobrindo um campo privilegiado de atuação, o Pontal do
Paranapanema.
Outra razão para a crescente força política e capacidade de pressão do MST derivou
de alguns eventos trágicos de enfrentamento entre a força pública e os militantes
do MST. O mais conhecido desses eventos foi o incidente de Eldorado dos Carajás,
ocorrido em abril de 1996. Esses eventos trouxeram a opinião pública
para o lado da organização dos sem- terra. Nesse contexto, o III Congresso
Nacional do MST modificou novamente o seu slogan, agora para "Reforma agrária:
uma luta de todos".
d) Uma quarta fase, correspondente ao momento atual do MST, iniciada a
partir de 1998, quando as dificuldades para a ação da organização
ampliaram-se notavelmente. Há um crescente isolamento do MST, em
relação às demais organizações populares do campo, e até mesmo em
relação a algumas entidades urbanas antes aliadas, refletindo o extremismo
do conjunto de recentes escolhas políticas da organização e a verdadeira
aliança com o partido dos trabalhadores, partido hoje tão desgastado por
consequência dos inúmeros escândalos apresentados pela Operação Lava
Jato. Mas soma-se a isto o apoio oficial do Governo de Luiz Inácio Lula da
Silva e de Dilma Rousseff.
O terceiro momento engloba os anos mais recentes, iniciando-se em 1994,
quando o MST viu-se envolvido em um conjunto novo de fatos políticos,
como a nova realidade dos assentamentos, agora em grande número, que
exigia respostas rápidas quanto à organização da produção e dos produtores
nestas áreas.
O fato marcante, no entanto, é que o MST, a partir daquele ano, estabeleceu-se
definitivamente em São Paulo, o Estado mais influente da Federação, conseguindo
consolidar-se e descobrindo um campo privilegiado de atuação, o Pontal do
Paranapanema.
Outra razão para a crescente força política e capacidade de pressão do MST derivou
de alguns eventos trágicos de enfrentamento entre a força pública e os militantes
do MST. O mais conhecido desses eventos foi o incidente de Eldorado dos Carajás,
ocorrido em abril de 1996. Esses eventos trouxeram a opinião pública
para o lado da organização dos sem- terra. Nesse contexto, o III Congresso
Nacional do MST modificou novamente o seu slogan, agora para "Reforma agrária:
uma luta de todos".
d) Uma quarta fase, correspondente ao momento atual do MST, iniciada a
partir de 1998, quando as dificuldades para a ação da organização
ampliaram-se notavelmente. Há um crescente isolamento do MST, em
relação às demais organizações populares do campo, e até mesmo em
relação a algumas entidades urbanas antes aliadas, refletindo o extremismo
do conjunto de recentes escolhas políticas da organização e a verdadeira
aliança com o partido dos trabalhadores, partido hoje tão desgastado por
consequência dos inúmeros escândalos apresentados pela Operação Lava
Jato. Mas soma-se a isto o apoio oficial do Governo de Luiz Inácio Lula da
Silva e de Dilma Rousseff.
MAST (Movimento dos Agricultores Sem-Terra) - Surgiu em 1998, na região do
Pontal do Paranapanema, em São Paulo, e mais tarde se ampliou para o interior do
Paraná. Foi fundado por militantes da Social
Democracia Sindical, uma central sindical de direita, e por dissidentes do MST14.
Hoje, representa mais de 800 famílias. De todos, é o movimento de sem-terra mais
moderado: opõe-se às ocupações de terra, não reclama da estrutura agrária do país
e defende uma reforma negociada.
MTL (Movimento Terra, Trabalho e Liberdade) - Fundado em 2002, é um
movimento com caráter político, pois apela aos estudantes e trabalhadores das
cidades para que se unam a fim de implantar "um novo modelo econômico e social".
O MTL atua, basicamente, no Triângulo Mineiro e Sudoeste de Goiás. Sua base de
apoio parece ser ligada a grupos de inspiração trotskista, como se pode perceber
das lideranças que compareceram ao III Encontro Nacional do Movimento15.
Nenhum desses movimentos, entretanto, tem a penetração territorial e o aparato
de organização do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), que, por
ser o maior e mais antigo, está presente em 23 Estados e tem dezenas de milhares
de famílias acampadas em todo o país. A presença de tais movimentos deve ser
referida com a finalidade de proporcionar uma melhor percepção do mosaico de
forças que compõem os movimentos em prol da reforma agrária no Brasil.
A rede internacional de apoio: É importante notar que o MST dispõe de ampla rede
de apoio internacional, o que permite um fluxo permanente no levantamento de
fundos, assim como a manutenção de um clima de solidariedade e simpatia para
com o movimento. Não por acaso, o próprio movimento, para facilitar o acesso de
estrangeiros dispõe de uma página na internet totalmente em inglês (Brazil's
Landless Workers Movement16), demonstrando profissionalismo em gestão de
informações e em relações públicas.
Além disso, a rede de apoio também se apresenta organizada, mostrando ao
público estrangeiro uma visão de Brasil frontalmente crítica à atuação do Poder
Público e inteiramente de acordo com os objetivos estratégicos do MST. Refira-se, à
guisa de exemplos, a atuação do "Comité de Apoyo de Madrid"17, e a campanha de
levantamento de fundos feita nos Estados Unidos da América pela organização
"Friends of the MST", que dispõe de sete núcleos naquela nação (San Francisco,
Seattle, Louisville, Chicago, Boston, New York e Washington)18.
Conforme notícia do jornal Zero Hora em 18 de julho de 2007, o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) iniciou, uma campanha de levantamento
de fundos nos Estados Unidos. Um e-mail pedindo doações foi disseminado pelo
país pelos sete núcleos do grupo - San Francisco, Seattle, Louisville, Chicago,
Boston, Nova York e Washington - sob o selo do Friends of MST (Amigos do MST).
De acordo com a solicitação, as doações podem ser feitas online, por cartão de
crédito, cheque, dinheiro ou ordem postal, a serem enviados a uma caixa postal em
Santa Cruz, na Califórnia. A quantia, diz o pedido, poderá ser descontada na
declaração do imposto de renda nos EUA.
O dinheiro é utilizado para bancar a Escola Nacional Florestan Fernandes, construída
pelo grupo em Guararema (SP). "A Escola Nacional já está servindo ao seu propósito
de promover o pensamento, o planejamento e a organização de ativistas do MST e
seus líderes eleitos e de, ao mesmo tempo, desenvolver o seu treinamento político,
técnico e ideológico" - diz o material que acompanha a solicitação.
Em entrevista a O Globo, o norte-americano Miguel Carter, professor da American
University e coordenador do grupo em Washington, afirmou que se trata da
primeira universidade camponesa da América Latina: "Nossa perspectiva é a de
levantar um bom volume de recursos, pois tanto os membros do 'Amigos do MST'
quanto outras pessoas procuradas por nós apoiam a luta contra o apartheid social
que existe no Brasil".
Os núcleos da Amigos do MST são formados por universitários, representantes de
ONGs, pequenos empresários e profissionais brasileiros e norte-americanos.
Anualmente eles costumam fazer marchas em Washington. O grupo sugere uma
doação mínima de US$ 25 (cerca de R$ 75). "O MST está contando com a ajuda de
seus amigos ao redor do mundo", diz um trecho do material.
O texto informa que, ao longo de cinco anos, 112 assentamentos e 230
acampamentos do MST em 20 dos 27 Estados brasileiros enviaram mais de 1,5 mil
voluntários para construir a Escola Nacional Florestan Fernandes (SP).
Outro tipo de apoio é prestado pela organização La Via Campesina, que se define
como um movimento internacional de camponeses, pequenos e médios
proprietários, sem-terra, mulheres do campo, povos indígenas, jovens do campo e
trabalhadores rurais19.
Embora pretenda defender bandeiras como soberania alimentar e agricultura
familiar, a Via Campesina tem atuado como um guarda-chuva debaixo do qual se
abrigam movimentos agrários radicais em diversos países, constituindo uma
organização-pólo - o MST é filiado a essa entidade. No Brasil, a Via Campesina foi
responsável pelo episódio de vandalismo contra o viveiro da Aracruz Celulose S/A,
ocasião em que foram destruídas cinco milhões de mudas20.
A situação no Estado do Rio Grande do Sul: A situação no Estado do Rio Grande do
Sul aponta para a predominância absoluta do MST nos acampamentos. Aos
acampados, o INCRA forneceu lona e efetuou o repasse de cestas básicas
originárias do Programa de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome ("Fome Zero").
Estratégia global de atuação do MST: A estratégia "confrontacional" adotada pelo
MST reflete-se no seu modelo de organização e na sua estratégia prática de
atuação. O movimento estrutura-se como um Estado paralelo, contando com
"instituições internas" que regem todos os aspectos das vidas dos militantes que
residem nos acampamentos. Para a elucidação do tema, é de suma valia o material
apreendido pela Brigada Militar de Carazinho.
Não se trata mais de estudo acadêmico ou de interpretações realizadas por
terceiros acerca do assunto, o que constituiria fontes secundárias, mas de
material que circula entre os acampados, verdadeira fonte primária.
O material demonstra o caráter paramilitar do movimento, que de uma
organização interna hierarquizada, que emula em alguns pontos a estrutura estatal;
de uma pauta de ações que privilegia o combate e a criação de espaços territoriais
onde a força pública não possa ingressar; de uma estratégia de atrito prolongado
contra o Estado e os empreendedores privados ("matando eles no cansaço");
É nesse espírito leninista que deve ser compreendida a opção do MST pela
extralegalidade, recusando inclusive a personalização jurídica, enquanto que, ao
mesmo tempo, utiliza-se dos instrumentos legais para promover o assentamento de
seus militantes em áreas desapropriadas.
Financiamento das atividades do MST: Um tema de abordagem tradicionalmente
difícil e controversa tem sido o do financiamento das atividades do MST. De onde
provêm os recursos que sustentam o movimento? A resposta não é simples, mas a
solução foi apontada em entrevista de página inteira concedida pelo Professor
ZANDER em matéria jornalística que, sintomaticamente, intitula-se "Não existiria
nenhum abril vermelho sem recursos públicos"23.
Cumpre, pois, reproduzir alguns trechos:
Muitas atividades do MST são financiadas com recursos públicos, por
meio de convênios com entidades controladas para organização, como a
Associação Nacional de Cooperativas Agrícolas. O senhor acha que esse
dinheiro é bem empregado?
- A partir dos anos 90, o financiamento do MST oriundo das doações de
igrejas europeias começou a escassear, ao mesmo tempo em que se
descobriu a porta das burras do Estado. São dois os estratagemas.
Primeiramente, mantêm sob estrutura não formal o MST - que não é
registrado, não tem estatuto, não tem processos públicos de escolha de
sua direção e não presta contas de nada. Isso permite proteger suas
lideranças em todo o País, ocorrendo alguma ilegalidade. Algo bizarro,
porque o MST vive cobrando democracia e transparência no
comportamento das demais organizações políticas do País.
E o segundo estratagema? O outro caminho é registrar dezenas de
organizações, sobre as quais ninguém ouviu falar (cooperativas,
associações, organizações de técnicos). Essas últimas, por serem
regulares, preparam projetos para obter fundos públicos. Como o MST
tem milhares de simpatizantes dentro do Estado (o que é mérito político
da organização), a aprovação sempre é facilitada. Como não há
fiscalização, a criatividade, digamos assim, permite um uso bastante
heterodoxo dos recursos. Inclusive o financiamento de ações como o
"abril vermelho"?
Sim. Sem esses fundos não existiria nenhum "abril vermelho". Mas
existem outras formas de acesso. Por exemplo, concentrar esforços
para eleger representantes no Legislativo, que depois serão marionetes
da cúpula do MST.
Um deputado estadual sustenta pelo menos 10 militantes em tempo
integral. Um deputado federal sustenta pelo menos o triplo. Militantes
colocados em cargos públicos farão o mesmo, sempre que puderem. Se
não ocorressem desvios e fosse uma organização realmente
democrática e aberta, por que o MST resistiria a abrir suas contas?"
Esse financiamento estatal do MST pode ser percebido na própria atuação do
INCRA e na prestação de auxílio aos acampados. Há o fornecimento de lonas e de
cestas básicas originárias do Programa de Segurança Alimentar e Nutricional do
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Apenas em julho de 2007
foram fornecidas 2.742 cestas básicas, se computados os acampamentos antes
referidos e os assentamentos do último ano.
No curso das investigações ministeriais do Rio Grande do Sul, foi formulado
questionamento ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome acerca
da existência ou não de alguma fonte de financiamento ou ajuda, direta ou indireta,
aos participantes do MST acampados no Estado do Rio Grande do Sul.
A resposta do Ministério do Desenvolvimento Social e
combate à Fome veio no seguinte sentido:
1 A Ação de Distribuição de Alimentos a Grupos Populacionais
Específicos - CONAB, atende acampados em situação de insegurança
12
alimentar e nutricional que estão à espera da reforma agrária do
Estado do Rio Grande do Sul;
2 Que a participação ou não dos acampados no Movimento Sem-Terra,
ou qualquer outro movimento social, não é prerrogativa para que as
famílias recebam as cestas de alimentos provenientes da ação
supracitada;
3 Que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, por meio
de sua Ouvidoria Agrária Nacional, é o órgão responsável pela
indicação de atendimento às famílias acampadas que se encontram
em situação de insegurança alimentar e nutricional, indicando
também comunidades quilombolas, comunidades de terreiros,
comunidades indígenas e os atingidos por barragens, em todo o
Brasil;
4 Que cada cesta de alimentos pesa 22 kg e é composta por: 10 kg de
arroz, 3 kg de feijão, 1 kg de fubá, 2 kg de farinha de trigo, 2 litros de
óleo de soja, 2 kg de açúcar, 1 kg de macarrão e 1 kg de leite em pó;
que a previsão de entrega às famílias não é mensal, e sim de três
vezes ao longo de um ano;
Essa conexão entre o "MST" e os "RECURSOS PÚBLICOS" foi examinada pelo
Congresso Nacional. A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito criada através do
Requerimento n° 13/2003, também chamada "CPMI da Terra", teve por objetivo
realizar amplo diagnóstico sobre a estrutura fundiária e o problema habitacional
brasileiro, e investigar as crescentes ações de ocupações de áreas rurais e urbanas,
registradas em todo o País, bem como os movimentos de resistência às ocupações.
Uma das características mencionadas no relatório final da CPMI é que o MST é um
grupo econômico e que embora apresente uma estrutura bem formada, a ausência
de personalidade jurídica é proposital, para evitar que seu patrimônio seja atingido
em ações judiciais. Os recursos financeiros, segundo levantamento feito pela CMPI,
provêm da ANCA e da CONCRAB, referidos como "BRAÇOS FINANCEIROS DO MST".
Seguem algumas evidências analisadas pela Comissão:
A ANCA e a CONCRAB compartilham o mesmo endereço, que não por
coincidência, vem a ser o mesmo endereço utilizado pelo MST no timbre
do ofício enviado a esta CPMI;
Quando o Governo Fernando Henrique Cardoso cortou recursos de
convênios da CONCRAB, em 2000/2002, o MST e seus dirigentes
afirmaram que se tratava de perseguição ao Movimento (informação
obtida nos artigos disponíveis no site do MST);
O MST recebe doações do exterior mediante transferências financeiras
destinadas à ANCA e à CONCRAB (informação obtida nos sites de
doadores estrangeiros e confirmada pelos dados do SISBACEN, que
chegaram posteriormente à CPMI);
Os depósitos referentes à aquisição de publicações e materiais diversos
do MST são realizados na conta corrente 117.138-0, que a ANCA mantém
junto ao Banco Bradesco, na agência 0136-8 (informação disponível no
site do MST e confirmada, posteriormente, pelos dados bancários da
entidade);
O domínio do MST na internet está registrado em nome da ANCA, ali
constando seu CNPJ e endereço (informação disponível do site da
FAPESP);
O site na internet da CONCRAB encontra-se dentro do domínio do MST,
que, como já afirmado, pertence à ANCA (informação disponível no site
da FAPESP);
g) O MST reconhece, expressamente, a CONCRAB como seu braço
operacional junto às diversas cooperativas agrárias (informação
disponível no site do MST);
O logotipo da CONCRAB é análogo ao do MST (círculo contendo mapa do
Brasil e casal de agricultores), diferenciando-se apenas pelas inscrições
ao redor do círculo.
Além das evidências, apontaram-se os seguintes elementos:
Ao reivindicar recursos federais, ANCA e CONCRAB apresentam planos de trabalho
em que descrevem como suas as instalações do MST nos assentamentos (escolas,
professores, etc.);
Ao prestar contas aos órgãos e entidades federais, ANCA e CONCRAB citam como
seus eventos que foram organizados pelo MST;
ANCA e CONCRAB têm uma estrutura física extremamente enxuta e recursos
humanos escassos (uma sede em São Paulo, uma filial em Brasília, nove auxiliares
administrativos e três faxineiras), o que não permitiria o recebimento de mais de R$
30 milhões em convênios, a não ser que o executor fosse o próprio MST;
Advogados do MST são pagos pela ANCA;
Recursos de um convênio federal com a ANCA foram desviados para a organização
da festa de comemoração dos 20 anos do MST;
14
Dirigentes da ANCA e da CONCRAB ocupam postos de direção nacional no MST; e
Funcionários da ANCA trabalham para a CONCRAB, inclusive movimentando
recursos desta entidade - e vice- versa - funcionários da CONCRAB trabalham para a
ANCA, realizando atividades financeiras.
Outros dados importantes foram constatados pela CPMI da Terra:
Além da ANCA, CONCRAB e suas filiais estaduais, municipais e locais (AESCA/AECA,
CCA, cooperativas de produção e cooperativas de crédito, associações de
assentados), outras entidades também integram a estrutura do MST, ligando-se
direta ou indiretamente às "entidades- mães";
As "escolas do MST": verificou-se que o ITERRA, localizado em Veranópolis/RS, tem
como sócios-fundadores a ANCA e a CONCRAB. O sigilo bancário dessa entidade foi
transferido para a CPMI da Terra, e constatou-se que as irregularidades identificadas
nas entidades paulistas se repetem com surpreendente frequência e similaridade na
escola gaúcha além de haver grande e suspeita circulação de recursos entre a escola
e seus sócios.
A Escola Florestan Fernandes é denominada de "Universidade do MST". Analisando
o CNPJ dessa escola verifica-se que se trata de uma filial do ITERRA, ou seja, a
universidade do MST pertence, indiretamente, à ANCA e à CONCRAB, os sóciosfundadores
da sede.
Outras escolas de grande porte do MST não puderam ser investigadas com maior
profundidade, mas é certo que existem ao menos uma dezena de instituições dessa
natureza que foram direta ou indiretamente criadas pela ANCA e pela CONCRAB.
Gráficas e Editoras: em pelo menos um caso a ligação é notória: o Jornal Brasil
de Fato, que publica, em nome do MST, o periódico de mesmo nome.
Uma das pessoas que fazia o serviço bancário da ANCA e da CONCRAB é, na
verdade, funcionário do Jornal Brasil de Fato. Esse "compartilhamento" de
empregados só se admite como lícito se ANCA, CONCRAB e Brasil de Fato foram
considerados um grupo econômico (CLT, art. 3.°).
Gráfica e Editora Peres: benesses em subordinação da ANCA e da CONCRAB, em
diversos convênios federais, levantavam forte suspeita de pertencer à estrutura do
MST.
Fato curioso para a Comissão: ao mesmo tempo que a Gráfica e Editora Peres
recebeu benefícios da ANCA e da CONCRAB, políticos de esquerda receberam
doações ou contrataram serviços dessa empresa durante o período eleitoral de
2002, conforme mostra o site do TSE, no sistema de prestação de contas eleitorais
ali disponibilizado. O presente fato não pôde ser apurado, pois houve uma
15
"blindagem" das entidades por membros da Comissão que temiam pelos avanços
que a investigação poderia ter. Os responsáveis pela ANCA e pela Sociedade
Editorial Brasil de Fato, empresa que edita a revista do MST, foram intimados pela
CPI para justificar os elevados saques em dinheiro feitos em nome das pessoas
jurídicas mencionadas, compareceram na data marcada, mas extrapolaram o uso do
direito de permanecer em silêncio.
Destacou a Comissão, ainda, que a regra n° 73 das Normas Gerais do MST prevê
que todos os bens coletivos, móveis e imóveis do Movimento deverão ser
alocados em nome da Associação Nacional de Cooperação Agrícola.
Isso afasta a
simples parceria, consoante definido pelos dirigentes do MST.
A CPMI da Terra apontou também diversas outras irregularidades, onde o MST
utilizou-se de patrimônio alheio e de dinheiro público para a prática de seus atos,
inclusive por meio de convênios: uso de tratores para invasões e apropriação de
dinheiro que seria destinado à construção de casas; cobrança de pedágio sobre
empréstimo e de comissões de venda sobre aquisições de insumos agrícolas e
materiais de construção; apropriação de área destinada a assentamento de
agricultores; irregularidades em convênios apuradas através de auditorias.
Realizou-se também auditoria no Estado do Rio Grande do Sul24:
A equipe de auditoria do Rio Grande do Sul examinou 27 convênios
celebrados com o Iterra pelo Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (INCRA), Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação (FNDE), Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica
do Ministério da Educação (MEC), Ministério da Saúde (FNS), Ministério
do Trabalho e Emprego (TEM), totalizando R$ 9.431.328,01. (...)
Problemas no INCRA
Autos de Processo não são localizados no INCRA
O processo do convênio n° 376.571 (R$ 610.985,00 para a formação em
nível de 2° grau, com habilitação administração de cooperativas) não foi
localizado pelo INCRA, o que inviabilizou a análise dos pareceres
técnicos, sobre o projeto/plano de trabalho, e jurídico, sobre as minutas
do convênio e seus aditivos, bem como o cumprimento dos requisitos
legais para celebração.
Atrasos na liberação de verbas
24 Transcreve parte do relatório da CPM1 da Terra.
16
Verificou-se que, como regra, o Incra não cumpre os cronogramas de
desembolso, integrantes dos planos de trabalho dos convênios. Em
média, há um atraso de 2,5 meses para o repasse de cada parcela, tendose
observado retardamentos de até 9 meses.
Para dar um falso amparo legal aos repasses atrasados, o Incra celebra,
rotineiramente, aditivos para prorrogação de prazos de vigência de
convênios. Mas os cronogramas físicos- financeiros são mantidos. Ou
seja, o órgão "dá um jeito" de repassar ao Iterra os recursos previstos.
Mas, a lei estabelece que não se pode pagar por serviços já executados.
Assim, o efeito do descompasso entre o programado e o executado
é o impasse imposto ao beneficiário dos recursos em decidir pela
restituição dos recursos, ou apresentação de uma execução financeira
fictícia. O Iterra não titubeou e optou pela apresentação de papéis que
não comprovam, em absoluto, a aplicação dos recursos federais nos
objetos dos respectivos convênios.
Na maioria das vezes, os falsos comprovantes de despesas apresentados
consistiram em notas emitidas pelo próprio Iterra, ou em recibos dos
alunos do Instituto, papéis que não comprovam, é claro, a contratação
de serviços de terceiros ou a aquisição de materiais.
O relatório do TCU registra que "mesmo que os repasses fossem
efetuados de forma tempestiva, o valor das despesas efetivamente
realizadas com alimentação e hospedagem ficam bem aquém dos
valores registrados nas notas fiscais emitidas pelo próprio 1terra.
Notas fiscais são emitidas pelo próprio convenente
A comprovação da aplicação dos recursos ocorreu, em sua maior parte,
mediante notas fiscais de prestação de serviço emitidas pelo próprio
Iterra, destinadas à comprovação de despesas com alimentação e
hospedagem (diárias) de assessores/professores e alunos, além de
pequenas despesas com fotocópias, material de consumo e expediente
e locação de computadores.
Cada nota fiscal assim emitida corresponde a um cheque da conta
específica, que recebeu R$ 3.717.495,50 da União entre 1999 e 2003,
emitiu nesse período notas fiscais e recibos no total de R$ 2.284.662,65
(61%) para comprovar a aplicação dos recursos.
Esse tipo de comprovação vem sendo acolhida pelo INCRA, trazendo
como resultado a aprovação sistemática de prestações de contas
constituídas de documentos precários, com objetivo de dar aparência de
legalidade à execução financeira.
O art. 30 da IN STN 01/97 determina que as despesas serão comprovadas
mediante documentos fiscais emitidos em nome do convenente e não
pelo próprio convenente.
O total das notas fiscais de prestação de serviço emitidas pelo próprio
Iterra é de R$ 2.284.662,65.
Recibos assinados pelos alunos
Mais recentemente, em substituição ao procedimento referido no item
anterior, a comprovação das despesas com hospedagem/alimentação
(diárias) passou a ser efetuada mediante recibos assinados pelos alunos
e assessores/professores.
Em 2004 a entidade recebeu R$ 2.137.672,51 e já comprovou R$
843.267,40 (40%) mediante recibos assinados pelos alunos/instrutores. A
tendência desse percentual é de crescimento, com expectativa de que
seja tingido o percentual de 60% que vem sendo praticado no período de
1999 a 2003. Embora alterada a sistemática de comprovação, não houve
alteração significativa na situação fática.
18
O relatório aduz que cada conjunto de recibos referentes a diárias de
uma etapa de convênio corresponde a um cheque da conta específica do
convênio que é sacado pela própria entidade.
Ou seja, simula-se que o Iterra sacou o dinheiro no caixa e o distribuiu
entre alunos e distribuidores. O problema é que o saque ocorre depois
dos cursos e, durante os cursos, eles recebem hospedagem e
alimentação fornecida pelo próprio Iterra.
O que era de se esperar era o Iterra apresentar, por exemplo, notas
fiscais referentes a compras de supermercado destinadas à preparação
de comida para os hóspedes.
O relatório concluiu que não é admissível a comprovação de despesas
com diárias mediantes recibos emitidos pelo alunos e instrutores, pois
eles foram, na verdade, meros beneficiários de
alimentação/hospedagem fornecida pelo convenente, sem receber
qualquer dinheiro sacado pelo Iterra das contas de convênio.
Em outras palavras, os recibos de alunos e instrutores são falsos.
A equipe de auditoria do TCU verificou, mediante dados extraídos dos
registros contábeis da entidade, considerando todas as contas passíveis
de registrar despesas relacionadas a diárias, alimentação e estadia, que
os cursos efetivamente incorridos pelo 1terra são significativamente
inferiores aos valores apresentados pelo Instituto nas prestações de
contas.
(...)
Superfaturamento das diárias: R$ 1.741.468,94 Superfaturamento com
alimentação e estadia R$ 438154,39, em 2002.
19
Nesse ponto, a equipe do TCU conclui pelo que já se suspeitava na CPMI
da Terra em relação aos convênios federais firmados com as entidades
ligadas ao MST: "Na prática, verifica-se que o Iterra vem sendo
financiado com recursos públicos federais oriundos de convênios. O
superávit em favor do Iterra resulta na realização de despesas não
relacionados ao objeto dos convênios e que não correspondem a
benefícios para os alunos com alimentação e instalações compatíveis
com os valores de diárias atestados pelo Iterra.
Liberação irregular de parcela
No convênio n° 488.326 (R$ 795.8000,00 para Especialização em
educação do campo e desenvolvimento) ocorreu a liberação da 2ª
parcela de recursos sem a aprovação de prestação de contas parcial
relativa à primeira etapa.
O convênio foi assinado pelo Presidente do INCRA e previa a liberação de
recursos em três parcelas. A primeira (R$ 170.430,00) foi creditada na
conta bancária do Iterra em 30/12/03. A prestação de contas referente a
primeira parcela foi apresentada em 18/02/04.
Essa prestação de contas não foi analisada, estando registrada no SIAFI,
em 27/07/05, na situação "A APROVAR".
O art. 51 do Decreto 93.872/86 determina que a entrega dos recursos
destinados ao cumprimento do objetivo do convênio devem ter por
base o cronograma de execução, condicionando-se as entregas
subsequentes ao regular emprego da parcela anteriormente liberada.
Duas versões de comprovantes de pagamentos
A facilidade que o Iterra tem para produzir falsos comprovantes de
despesas chega ao ponto de se verificar que, no convênio n° 488.326, o
Iterra apresentou duas versões de relações de pagamentos, indicando
comprovantes de despesas para três cheques.
(...)
A equipe do TCU entende que as despesas indicadas na Tabela 6 devem
ser impugnadas, "pois não é admissível que a prestação de contas seja
construída, ora com uns, ora com outros documentos, ao alvedrio do
convenente, a fim de adequar as supostas despesas à movimentação da
conta específica.
Falhas na utilização da conta corrente de convênio
20
Diante das grosseiras irregularidades detectadas pela CECEX/RS, outras
parecem pouco significar.
Uma irregularidade que seria greve, se não houvesse o absurdo descrito
anteriormente, é o fato de o Iterra haver uma única conta corrente para
dois convênios. O convênio n° 424.906 teve seus recursos movimentados
na conta específica do Banco do Brasil, agência 604-1, conta 7257-5 até
21/03/2005. Contudo, em 23/12/2004, foi firmado novo convênio (n°
516.927), informando a mesma conta corrente. No extrato bancário do
primeiro convênio, consta o crédito da parcela de R$ 75.000,00 do
segundo convênio.
Assim como nos convênios da OCB, o convenente Iterra se absteve de
aplicar os recursos de convênios em caderneta de poupança,
acarretando perda de rendimentos financeiros.
Conclusão do analista do TCU
A equipe de auditoria concluiu que o processo de fiscalização deve ser
convertido em tomada de contas especial, para que, no prazo de quinze
dias, o Iterra apresente sua defesa ou recolha aos cofres públicos a
importância de R$ 3.144.920,05, mais atualização monetária e juros de
mora.
A equipe propõe, também, a audiência do Presidente do Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária, Sr. Rolf Hackbart, para que
justifique sua autorização para transferência da 2ª parcela do convênio
n° 488.326, sem que tenha sido aprovada a prestação de contas parcial
referente à 1ª parcela do acordo.
Se não for devidamente justificada a liberação de recursos, o
responsável poderá ser multado pelo TCU.
(...)
Os benefícios esperados da auditoria são, de acordo com os analistas do
TCU, os seguintes: obrigação de ressarcimento de R$ 3.144.920,02 (valor
histórico), referentes aos convênio examinados; ressarcimento de
valores da ordem de R$ 295.500,00 (valor histórico) referente à
impugnação de despesas nas próximas prestações de contas; economia
de R$ 1.430.370,00, em caso de denúncia dos convênios vigentes;
Melhores controles referentes às prestações de condos convênios, e;
aperfeiçoamento de procedimentos do PRONERA.
O TCU procedeu à auditoria em diversos Estados e constatou que ANCA
e CONCRAB atuam como agentes financeiros do MST (fl. 231) tendo em
vista o desvio de recursos que eram destinados à reforma agrária,
educação, saúde, pesquisa.
A equipe de auditoria listou algumas propostas para tentar punir e
solucionar as irregularidades praticadas pelo MST em razão de desvio de
verbas, principalmente em decorrência do mal uso de convênios (fl.
238/239). Há, ainda, uma conclusão sobre indícios de formação de
quadrilha (fl. 239), suspeita de desvio de recursos para o "Abril
Vermelho" (fl. 240), além de despesas absurdas pagas pela União que
chocaram a equipe de auditoria, e os analistas, que com cuidado,
narraram alguns fatos que impressionaram (fl. 237):
De modo semelhante, ninguém se deu ao trabalho de avaliar a tiragem
de 20.000 exemplares de cada um dos cadernos de educação,
denominados Alfabetização de Jovens e adultos - Matemática,
Alfabetização de Jovens e Adultos - Didática da Linguagem e Como fazer
a escola que queremos - Planejamento. Ora, se o MST afirma contar com
4.000 educadores, qual a justificativa para a impressão de 20 mil
exemplares de material para formação pedagógica? O caderno
Alfabetização de Jovens e Adultos - Didática da Linguagem encontra-se a
venda na loja do MST pelo preço de R$ 4,00 (informação disponível no
site www.mst.org.br).
Note-se que o preço informado no fim do parágrafo não guarda relação
direta com a falta de análise técnica da proposta. É possível que a equipe
tenha desconfiado que o excesso de cadernos impressos seja vendido na
Internet. Dessa forma, a equipe insinua, entrelinhas, a apropriação
indébita de R$ 64 mil (16 mil cadernos), já que apenas 4 mil seriam
aproveitados pelos educadores do MST.
Resumindo, a equipe de auditoria do TCU identificou diversas
irregularidades na execução dos convênios firmados pela administração
federal com as entidades ligadas ao MST, principalmente, as maiores
delas: ANCA, CONCRAB E ITERRA (fl. 243):
a) Danos aos cofres públicos;
b) Irregularidades nos convênios de assistência jurídica e assentados;
c) Indícios de favorecimento na celebração de convênios da ANCA e da
CONCRAB;
d) A ANCA e a CONCRAB atuam como agentes financeiros do MST;
e) Desvio de finalidade na celebração de convênios;
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f) Suspeitas de desvio de recursos para o "Abril Vermelho".
Portanto, seja pela malversação de verba pública apontada nas conclusões da CPMI
da Terra, seja pelo repasse de dinheiro público efetuado diretamente pelo INCRA na
forma de distribuição de lonas, cestas básicas e outros auxílios, verifica-se a prática
de financiamento estatal das atividades do MST.
Além da proveniência pública de boa parte dos recursos utilizados pelo MST, não se
pode olvidar aquela que foi a sua fonte inicial de renda: a doação de recursos por
entidades estrangeiras, notadamente organizações não governamentais ligadas a
instituições religiosas, como a organização CARITAS, mantida pela Igreja Católica na
Alemanha. No ano de 2003 o jornalista Ricardo Westin, da "Folha de São Paulo",
publicou uma reportagem com o título "ONGs estrangeiras financiam parte das
atividades do MST". Pela relevância do tema, transcreve-se a matéria25:
02/11/2003 - 08h00
ONGs estrangeiras financiam parte das atividades do MST
RICARDO WESTIN da Folha de S.Paulo
O cofre administrado pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra) recebe doações vindas do exterior que, a cada ano, somam o
equivalente a pelo menos R$ 752 mil.
O MST mantém suas fontes de renda em segredo, mas um levantamento
feito pela Folha mostra que no mínimo oito ONGs e agências de
cooperação internacional ajudam a financiar o principal movimento
social do país.
Entre elas, estão a alemã Caritas (doa o equivalente a R$ 396 mil por
ano), a canadense Développement et Paix (R$ 162 mil), a britânica
Christian Aid (R$ 143 mil) e a americana Grassroots International (R$ 51
mil) --as duas primeiras são ligadas à Igreja Católica; a terceira, a igrejas
protestantes.
Outras organizações ajudam a engrossar a lista de "patrocinadores",
mas a Folha não teve acesso a informações sobre as cifras. São a FMST
(Friends of the MST), dos EUA, a Frõvannerna, da Suécia, o Conselho
Mundial de Igrejas, com sede na Suíça, e a Mani Tese, da Itália.
Os dirigentes, além de não revelar os nomes das entidades estrangeiras,
tratam de minimizar o peso do apoio internacional em seu orçamento.
Fonte:
http://www.vigilantesdagestao.org.br/wp-content/uploads/2015/08/Pedido-de-Atua%C3%A7%C3%A3o-contra-MST.pdf
8 http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/reforma_agraria/arquivo/150890.html (acesso em 20 de junho
de 2008).
9 Existe um interessante estudo acadêmico acerca da marcha em direção a Brasília promovida pelo MST,
em 1997. A autora relata o controle quase militarizado do evento, as fortes penalidades existentes e a
condução do processo de forma inteiramente centralizada. Descrevendo o caso de expulsão de um
integrante da marcha, por suposta transgressão das normas, a autora afirma: “(...) Há muitas formas de
coibir a expressão, e distintos modos de controle social (...) o desacordo tendia a ser compreendido como
indisciplina e, segundo a gravidade, podia redundar em expulsão (...) Esse temor tornou-se presente na
Marcha Nacional; no entanto, é cotidiano nos acampamentos do MST: muitos sem-terra dispõem-se de
tudo para neles garantir por um tempo a subsistência da família e a sobrevivência do sonho da
terra (...) O poder silencioso do medo, que faz calar, tornar-se-ia ainda mais opressivo nos últimos dias
da Marcha Nacional”. (CHAVES, Christine de Alencar. A marcha nacional dos sem-terra. Rio de
Janeiro: Relume Dumará, UFRJ: Núcleo de Antropologia da Política, 2000, p. 217-218, grifou-se). 10 ttp://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/reforma_agraria/personagens_movimentos.html (acesso em 28
de maio de 2008).
11http://www.usp.br/agen/repgs/2003/pags/019.htm. 12 http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u79406.shtml. 13 http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u79289.shtml.
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